quinta-feira, 20 de setembro de 2007

MEIO AMBIENTE E ESPIRITUALIDADE



A crise ambiental e a falta de espiritualidade
Em entrevista à FOLHA, o reverendo Silas Barbosa Dias comenta as diferentes questões relacionadas à ecoteologia

retirado de http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=16427&dt=20070916

‘Precisamos unir forças para lutar a favor da vida’, incentiva o também professor Silas, ‘a vida é nosso bem maior, o ambiente e a criação são nossa casa comum’
''A crise do meio ambiente não é apenas da natureza, mas sobretudo da pessoa humana.
É uma crise apocalíptica da vida no planeta''. Essas duas frases compõem o prefácio do livro ''Doutrina Ecológica da Criação'' - de J. Moltmann -, que o professor de teologia e reverendo da Igreja Presbiteriana Filadélfia, Silas Barbosa Dias, tem em mãos ao receber a reportagem da FOLHA na portaria. Ele prefere conversar no jardim, a céu aberto, e nos conduz a um banco localizado sob as árvores do conjunto de prédios onde mora. Sua aparência e seus modos indicam uma compatibilidade natural com seus dois principais temas: o meio ambiente e a espiritualidade. Mestre em teologia pela Universidade de Genebra e doutorando da Universidade Livre de Amsterdã, o professor fala com intensa vibração sobre um dos mais novos ramos da teologia: a ecoteologia - que traz a idéia de que o estado de ''desintegração'' do meio ambiente reflete a falta de espiritualidade do ser humano. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à FOLHA pelo reverendo Silas Barbosa: O que é a ecoteologia?

É uma preocupação com o estudo do meio ambiente ligado à verdadeira espiritualidade. Falar de Deus é falar do Deus criador e da criação. E falar da criação é falar do teatro da glória de Deus.
A criação é um teatro onde Deus queria expressar sua glória, e colocou o ser humano para cuidar dessa terra. A grande questão é essa: qual o lugar da criação na teologia, qual o propósito da criação? A ecoteologia trabalha uma frase muito boa: ''quando Deus criou os céus e a terra, viu Deus que era muito bom'' - Ele gostou da sua criação. Acho que essa é a base de tudo.
O outro ponto é que a criatura foi chamada para cuidar dessa criação. Em Gênesis aparece ''dominai sobre os peixes'', mas como um domínio responsável. Era um domínio para cultivar, não para destruir. E a ecoteologia mostra que, quando você cuida bem da criação, está também glorificando e dignificando o Criador. Isso é tratar a criação com dignidade.
Como surgiu esse ramo da teologia? Ele começa na Europa, Estados Unidos e Índia. Estudei em Genebra, que é uma cidade onde as igrejas de todo o mundo têm uma sede. Então, os cursos de lá não estão preocupados apenas com a religião, mas com a Terra. Hoje, falar do ecumênico é falar do planeta. Por exemplo, no âmbito da ONU está se discutindo a elaboração da Carta da Terra, que será uma declaração dos direitos fundamentais do planeta - a exemplo da Declaração dos Direitos Humanos. No dia em que for definida, a Carta será uma declaração mundial do meio ambiente e dos direitos da Terra, e qualquer coisa que você fizer contra o planeta se tornará ilegal. A ecoteologia tira um pouco essa idéia de que a espiritualidade está apenas no terceiro andar: a espiritualidade genuína está ligada à vida. O planeta Terra é a casa da humanidade e temos de cuidar dele como uma casa comum. A falta de preocupação com a Terra mostra falta de amor ao próximo, e a falta de amor ao próximo significa falta de amor a Deus. Então, à luz dessa teologia, quanto melhor estivermos na relação com o criador, teremos também uma melhor relação com o próximo e com a criação.
Isso indica que os problemas do meio ambiente refletem uma falta de espiritualidade da humanidade?
Acredito que sim, está refletindo a falta de espiritualidade e a alienação do ser humano consigo mesmo e com a natureza. A alienação é você estar desligado até de si mesmo. Se não cuido do meio ambiente, não estou cuidando do meu próprio corpo - porque meu corpo tem um espaço para ser e para existir. Uma espiritualidade genuinamente bíblica passa pela integridade da vida em todas as dimensões. Vamos pegar o caso do mestre dos mestres, Jesus, que disse: ''olhai para os lírios do campo''. Quer dizer, ele era alguém que olhava para a própria natureza e aprendia com ela. Acho que a mensagem final disso hoje é que a gente precisa unir todas as forças para lutar a favor da vida. A vida é nosso bem maior, o ambiente e a criação são nossa casa comum. Na história da teologia, quais as passagens mais significativas sobre o meio ambiente? Os pais da Igreja tinham uma preocupação com a totalidade da vida. Naquele tempo a teologia era chamada de sabedoria. Depois, a teologia passou muito tempo só no âmbito do religioso, como se o homem fosse apenas alma. Durante o racionalismo, que passou pelo iluminismo, destacou-se o aspecto corpo, o homem racionalista. Já no fim do século XX percebemos que o homem não é só corpo, mas também um ser social. E a descoberta atual é de que o homem não é apenas um ser social, mas um ser que faz parte do meio ambiente, do 'eco'. Então, hoje podemos dizer que o ser humano é um ser bio-psico-sócio-espiritual-ecológico. Essa é a totalidade do ser humano. Como a teologia tem a ver com o ser humano integral, parece-me que essa será a grande teologia do século XXI. De alguma forma, a ecoteologia parece aproximar a teologia das coisas simples da vida... Creio que sim, ela tem essa preocupação de trazer de volta a teologia para a terra. Os profetas falavam da dança da criação... Por exemplo, você pega o profeta Isaías, no Capítulo LV, ele começa a falar assim: ''em alegria Saireis, em paz Sereis guiado, e os montes romperão em cânticos e as árvores baterão palmas''. Olha só, a criação participa da dança da espiritualidade. A mensagem está falando da graça Divina sobre a vinda de Cristo, mas chega a ponto de dizer que isso seria tão festivo que a própria natureza e as próprias árvores bateriam palmas. Isso equivale a dizer que a verdadeira espiritualidade é uma festa dançante da criação.
Fábio Cavazotti Reportagem Local

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou mt interessado no tratado da Ecoteologia como viés em que a teologia cuida da natureza, pois Deus criou o Jardim do Éden e colocou o homem para "cuidar" dele. Parabéns pelo blog e pelo comentário feito com propriedade.

João Batista de Almeida - Teólogo
www.faifa.com.br